Através da comunicação, o ser humano sempre buscou exercer influência e persuadir pessoas ou grupos modificando atitudes, emoções e comportamentos. Os choques de poder sempre consistiram em disputas de vontades. Subjugar a determinação de um adversário, muitas vezes é melhor do que vencer pela força. As operações psicológicas sempre estiveram presentes na equação do poder, tendo sido empregadas por generais e imperadores em tempos de paz e de guerra ao longo da história.
Na sociedade cristã ocidental, desde criança, aprende-se a comemorar o nascimento de Jesus no dia 25 de dezembro; a grande maioria de nós cresce acreditando que nessa data, 2024 anos atrás, ele teria nascido em Belém, numa manjedoura e recebido a visita dos três reis magos do Oriente que também teriam trazido presentes. Entretanto, não há nenhuma evidência histórica nem arqueológica registrando o local nem o dia ou época do nascimento Jesus, até mesmo a data convencionada estaria errada, pois o rei naquela ocasião, Herodes I, a quem foi atribuído o massacre das crianças e bebês, morreu no ano 4 a.C.
A verdade é que, desde a Antiguidade, a segunda metade do mês de dezembro sempre foi época de muitos eventos e rituais. A noite mais longa do ano no Hemisfério Norte, o solstício de inverno, acontece entre 21 e 22 de dezembro; desde épocas mais remotas, muitas sociedades pagãs como druidas e celtas celebravam esse momento com oferendas a divindades, rituais de fertilidade, comemorações ligadas às forças da natureza, dentre outros. No caso dos romanos, no dia 17 de dezembro, eles promoviam a Saturnália, um festival em homenagem ao deus Saturno, que era mais parecido com o Carnaval do Brasil, muita música, banquetes, danças, jogos, brincadeiras e trocas de presentes; e, no dia 25 de dezembro, eles celebravam a grande festa solar.
Desde o início do século I, por adorarem apenas a Jesus e não ao imperador de Roma, os cristãos foram considerados subversivos, atraindo muitas perseguições e massacres ao grupo. Um dos fatores que agravou a impopularidade desse segmento religioso é que muitos se recusavam a servir nas legiões romanas. Apesar desse cenário, o número de adeptos à nova religião prosseguiu crescendo até o início do século IV; nesse momento, o imperador Constantino I percebeu que poderia fazer uso político desse contexto em favor do Império Romano.
Após declarar que a vitória na batalha da Ponte Mílvio (312), teria ocorrido por intervenção divina, Constantino lançou o slogan “Um Deus no Céu, um Imperador na Terra”; no ano seguinte, tirou o cristianismo da clandestinidade ao proclamar o Édito de Milão (313), que garantia liberdade para cultuar qualquer deus, favorecendo aos súditos do império que desejassem se converter ao cristianismo. Depois disso, foram concedidos privilégios à Igreja, construídos templos e convocado o Concílio de Niceia (325), para elaborar os fundamentos da doutrina. Com essas reformas, a conversão aconteceu rapidamente, atingindo quase todos os segmentos da sociedade.
Tendo governado de 306 a 337, Constantino foi o primeiro imperador a se autodeclarar cristão, entretanto ele apreciava ter sua imagem associada à divindade do Sol Invicto, como aparece na moeda de ouro cunhada no ano 313; assim sendo, vários relatos afirmam que em 336, o imperador fixou a comemoração do Natal no dia 25 de dezembro. Esse ato tornou a nova religião mais atraente e atingiu pleno êxito no objetivo de seduzir mais adeptos ao cristianismo, favorecendo uma nova unidade de pensamento romana. Conforme o que já foi exposto, pode-se inferir que Constantino aplicou com sabedoria e empirismo alguns dos princípios das operações psicológicas: credibilidade, oportunidade, progressividade, continuidade, coerência, antecipação, flexibilidade, unidade de comando, adequabilidade, objetividade e exequibilidade.
O slogan consiste em um dos elementos essenciais de uma propaganda, trata-se de uma frase expressiva e incisiva, elaborado para atuar sobre as motivações, capaz de provocar condicionamentos psíquicos e reações desejadas no público-alvo. A frase “Um Deus no Céu, um Imperador na Terra” contém uma ideia-força capaz de atingir várias camadas sociais e foi coerente com as motivações da época, favorecendo adesão voluntária dos públicos-alvo e levando as massas a aderir ao objetivo comum de unidade do império.
A propaganda é a grande ferramenta das operações psicológicas porque visa influir em convicções profundas, tais como: juntar-se à luta por uma causa ou render-se. No caso que estamos comentando, pode-se identificar atuação no nível estratégico, porque favoreceu o êxito e longevidade do Império Romano ao fortalecer a vontade do povo romano e capacidade de suas Legiões de cumprirem suas missões em torno de uma nova ideia.
Na construção dessa unidade de pensamento em torno do cristianismo, Constantino e os imperadores seguintes garantiram uma significativa sobrevida ao império e promoveram mudanças na civilização que permanecem ecoando até nossos dias.
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